[COLUNA] Parem de dizer que o One vai ser o último console da Microsoft


Microsoft se tornou o saco de pancada favorito da indústria. Desde o anúncio do Xbox One, a companhia deixou de ser a queridinha dos jogadores e passou a receber pedradas de todos os lados e por qualquer razão. Bastava um novo anúncio ou rumor surgir para que alguém chegasse com os dois pés nos peitos e já acompanhado de uma avalanche de críticas.
E apesar de isso ter aberto espaço para que muita gente leiga “previsse” a iminente falência da empresa, a verdade é que até mesmo alguns analistas de mercado olham para o novo console com um pouco de receio, principalmente por conta do constante vai e vem de políticas e informações confusas liberadas até agora.
Como se não bastasse, a saída de Don Mattrick pouco tempo depois da E3 e o recente anúncio de aposentadoria do presidente da Microsoft, Steve Ballmer, foram vistos como um sinal de instabilidade preocupante tanto por membros da indústria quanto pelos próprios consumidores, que não se sentem seguros com o futuro da companhia.
Diante de tudo isso, o site Games Industry levantou a possibilidade de o Xbox One ser o último console da empresa. Afinal, com a péssima recepção e a chegada de uma nova diretoria, nada impede a Microsoft de deixar a produção de consoles de lado e investir em outros segmentos, como desenvolvimento de jogos ou se voltar unicamente para softwares de PCs.
 No entanto, será que isso pode realmente acontecer?
Calma lá...
Primeiramente, não podemos negar os fatos. As opiniões iniciais sobre o One não são infundadas e as burradas da empresa realmente dão a impressão de que ela não sabe o que está fazendo — algo bastante perigoso para quem está prestes a lançar um novo produto. Mas será que isso é o suficiente para dizer que o novo Xbox será o último video game da marca?
Don Mattrick foi o primeiro a abandonar o barco, acendendo o sinal de alerta (Fonte da imagem: Reprodução/VideoGamer)
Esse tipo de previsão é bastante arriscado de ser feito, principalmente porque é difícil julgar as estratégias da empresa nesse momento de transição ou falar sobre o sucesso ou fracasso de uma plataforma que ainda não chegou ao mercado. E por mais que o preço e a suposta falta de títulos — algo que os últimos anúncios já provaram não ser bem assim — sejam os alvos preferidos doshaters, eles não são os únicos fatores cruciais para a sobrevivência de um sistema. O PS3 que o diga.
E essa visão limitada sobre o que é a indústria não é exclusividade dos leigos ou de fanboys que adoram reclamar. Um dos analistas entrevistados pelo Games Industry, por exemplo, diz que a saída da Microsoft do mercado de video games é algo um tanto quanto previsível. Segundo David Cole, consultor da DFC, todo mundo se questionava sobre até quando ela ia permanecer na briga e que a falta de envolvimento do público consumidor com os recentes anúncios mostram que o One não vai ser um grande sucesso — o que, para ele, pode fazer com que estejamos diante do último membro da família Xbox.

O problema é que esse tipo de declaração é totalmente superficial e sem qualquer embasamento crítico, o que faz com que ele fique em um “achismo” perigoso. Afinal, quem acompanha já sabe que um video game não se faz apenas pelo número de unidades vendidas.
É como o analista de mercado Billy Pidgeon destaca. Segundo ele, o lançamento de um novo console não é a conclusão do projeto, mas o início de toda uma estratégia que vai se prolongar pelos próximos anos. Como ele aponta, trata-se de um investimento de risco.
Um ponto que ele destaca muito bem é que um novo hardware quase nunca se paga logo de início e que esse retorno acontece a médio e longo prazo graças ao valor que é agregado ao produto. No caso de um video game, são os jogos que compõem sua biblioteca e os demais serviços que vão atrair a atenção do público e compensar todos os gastos que a fabricante teve no desenvolvimento da plataforma.
E nesses pontos, a Microsoft está muito bem servida. Apesar do susto inicial de que o sucessor do Xbox 360 seria totalmente centrado em TV, tanto a E3 quanto a gamescom mostraram que a empresa está empenhada em trazer uma boa lista de títulos exclusivos, seja de produção própria ou de estúdios parceiros. Além disso, a Live sempre foi uma referência de qualidade na atual geração e tudo indica que teremos algo semelhante na próxima, principalmente com uma maior utilização da nuvem no One.
Isso fica ainda mais claro quando voltamos um pouquinho ainda mais no tempo e olhamos para o Wii. O sistema da Nintendo era sensivelmente menos potente que a concorrência e, ainda assim, conseguiu vender muito mais que eles por trazer jogos e um sistema de controles que ninguém mais conseguia oferecer — mesmo com os haters xingando e reclamando sem parar.
Além disso, abandonar o mercado de video games é algo que não faria muito sentido a essa altura do campeonato. A Microsoft já conseguiu se estabelecer e construir uma base de fãs — alguns incrivelmente fiéis — que outras gigantes da tecnologia, como Google e Apple, ainda lutam para conquistar. E por mais que a produção de consoles não seja a principal fonte de sua receita, ela é responsável por uma boa quantia de seus cofres e ainda ajudou a marca a ir além de uma produtora de software para computadores — principalmente se lembrarmos de que nenhum outro hardware da companhia vingou.
E se ela virasse third party?
Por um bom tempo as pessoas agouraram a Nintendo para que ela abandonasse a produção de consoles e se transformasse em um estúdio third party. No entanto, o que aconteceria com a Microsoft caso o Xbox One realmente fosse seu último video game?
Se eu tivesse de apostar em um possível rumo para a companhia caso ela realmente decida abandonar a competição, o caminho mais lógico que ela poderia seguir seria exatamente o desenvolvimento de jogos, mas com um apelo muito maior para o mercado mobile do que o de video games propriamente dito.
Microsoft Surface: nunca vi, nem comi, eu só ouço falar (Fonte da imagem: Divulgação/Microsoft)
Como fazer um AAA no modelo que temos hoje é algo muito caro e o retorno não é garantido — e a descontinuação do One prova que a Microsoft não quer se arriscar —, faz muito mais sentido investir em um formato mais seguro. Desse modo, o desenvolvimento de títulos para smartphones e tablets pode ser algo muito mais certo, visto que ele é barato e pode trazer um retorno considerável por conta das vendas ou das microtransações que podem ser inseridas.
No entanto, por mais que isso possa trazer um bom resultado de imediato, a empresa ainda teria de encarar uma concorrência ainda mais dura do que a que ela tinha com a Sony. A Microsoft ainda não tem experiência na produção de jogos para essas plataformas e isso poderia pesar muito no fim das contas. Isso sem falar que o público causal não é tão fiel e, por mais que ela conseguisse criar um sucesso, nada garantiria que ele iria perdurar e se manter.
Vai acabar ou não?
Como mencionado no início do texto, as chances de o Xbox One ser o último console da empresa são bem remotas. É difícil prever isso quando a nova geração ainda nem começou, mas olhando o sucesso obtido com o Xbox 360, é bem pouco provável que a Microsoft decida jogar tudo para cima.
(Fonte da imagem: Reprodução/Panda Whale)
E por mais que o One não seja o sucesso que eles estão esperando no início, experiências passadas já nos mostraram que o ciclo de vida de uma plataforma é tempo o suficiente para uma reviravolta.

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